
Este é um assunto delicado, então espero que possam ler despidos de qualquer falso moralismo ou liberalismo, ok?
Diria que, pela abordagem que quero fazer, ele caberia melhor no Cai Muita Garoa, que, inclusive, faz tempo que não atualizo. Se duvidar jogo esse texto para lá depois. Por (h)ora, fica aqui mesmo, já que cabe no subject BBB.
Vamos discutir o tal do preconceito velado?

Todo mundo brinca que o BBB tem anualmente cotas para negros. O que não deixa de ser verdade. Nas primeiras edições, era comum a presença de um casal de negros. De uns tempos para cá, a produção tem se contentado em apenas um negro para suprir a necessidade da tal politicagem correta.
Pense em todos os negros que tivemos em todas as edições de BBB. De quais você lembra? Alias, como você lembra deles? Vamos considerar que os mais marcantes foram André (BBB1), P.A. (BBB5) e Airton (BBB7). Vanessa (BBB1) não conta, já que só foi para a final por um acaso do destino e só apareceu graças a seu romance com Sergio (o franco-angolano, não o gay). André se destacou por ser louco. Mas tipo assim, louco na forma mais pura da palavra. Não dava para saber se você amava ou odiava ele, já que ele variava em comportamentos de aconselhar os outros da casa da forma mais madura possível à raspar suas sobrancelhas completamente. P.A. se destacou pelo tal papel de vilão na casa. Airton, pela sunga branca do Alemão. Os outros, como você se lembra? Certamente como o "negão sarado gente boa", não é? Ok, esquecemos do Felipe, BBB8, o qual eu sou uma das únicas que lembro por ele ter estudado certa altura da vida com meu namorado.
Não sou de comprar discursos moralistas que pedem para que os negros tenham espaço na sociedade de forma obrigatória. Sou contra, por exemplo, cotas na faculdade. Afinal, você entra em uma universidade por seu estudo e não sua cor. Na prova do vestibular você não deixa claro de que cor você é. Na ficha de inscrição sim, mas ninguém assinala sua prova com um "ok, esse aqui é caucasiano, deixa passar. Esse é japonês, vai pra USP. Ooops. Esse é negro. Esquece. Quero ele no meu campus não". Acho que a questão da educação deve ser resolvida lá em sua raiz, para fazer do Brasil um país como os de fora, onde o ensino público é valorizado em sua educação básica, e não apenas na superior. Mas enfim, isso é muito complexo para o Cai Muita Chuva. Era só para deixar claro que, na minha opinião, negros não devem ser lembrados só para preencher cotas. Porque, se for assim, os japoneses precisam de cota para estarem em novelas e passarelas da moda também. Quantas modelos ou protagonistas japonesas você conhece? Eu li um artigo em uma revista oriental muito interessante sobre isso. "Onde estão nossas cotas?", ele dizia. Mas enfim, essa não é a questão.
A gente custa a acreditar, mas sim, em pleno século XXI existe muito preconceito com negros. Inclusive entre jovens de 20 a 30 anos, que já deveriam ter sua cabeça mais aberta. E é o tal do preconceito velado, aquele que a pessoa não assume - afinal, não é politicamente correto - mas também não enfrenta. É do tipo "eu gosto de negros, mas eles lá e eu aqui". Substitua negros por gays, judeus, japoneses, ou qualquer outro motivo de preconceito. Vale em tudo.
Estamos em uma edição do BBB que pegou como mote a luta contra o preconceito contra homossexuais. Só que essa história de fazer com que todos os participantes - com preconceito ou não - aceitem a convivência com pessoas de orientação sexual diferente da própria ignora um detalhe importante: o único negro da casa. Sim, estamos em um mundo gay. Mas no Brasil, por exemplo, os negros ainda são a maioria. Não que ache que "por isso deveriam ter mais personagens negros no BBB", pois não acho que os participantes devam necessariamente representar a sociedade. Porém, contudo, todavia, o fato de estarem presentes três homossexuais e um negro faz com que qualquer tipo de preconceito seja direcionado à figura mais fraca, em minoria. Afinal, disseram ser errado destratar um homossexual, mas ninguém disse nada sobre os negros, não é mesmo?
Fernanda é a figura da nova Grazi na casa. Loira, magra, certinha. Chega a desmaiar de tanta inocência. E essa figura angelical, que pediu desculpas para o Brasil ao “fofocar” na casa, justificou por não ter sua mãe lá para desabafar, mas na primeira oportunidade ligou para seu peguete, e não para sua família, teve a moral de soltar o infeliz comentário de que “Uiliam nem é tão negro assim”. A frase veio no contexto de uma festa onde todos estavam falando mal de Uiliam, procurando motivos para direcionar os votos para ele no paredão. Tipo assim, "ele vai ser o alvo e vamos agora tentar descobrir o porque". Entre mil defeitos que estavam dando ao participante, Fernanda declarou que Uiliam não é tão negro, então não poderia fazer o papel da pobre pessoa que sofre de preconceito. Em contrapartida, alguns dias depois, sem nem saber dessa afirmação, Uiliam reclamou (novamente, pois já havia dito isso antes) que Fernanda não o olha nos olhos, não o toca, parece que o evita, como se fosse um leproso.
Para nós que somos brancos e ficamos da cor de um coração de desenho de criança a qualquer sinal de sol, parece clichê qualquer reclamação de preconceito do Uiliam. Eu acharia clichê. Se não tivesse convivido com tantos negros. Minha prima, por exemplo, namorou um negro por cinco anos. Amava ele de uma forma até que doentia. Presenciei de perto tudo o que sofreram com famílias, amigos, e – pasmem – olhares tortos na rua por uma branquela estar com um negro. E do tipo que Fernanda falaria que “nem é tão negro assim”. É ridiculo, mas em um país como o Brasil, você ainda leva vantagem por ser branco. Ser loiro então, nem se fala. É o preconceito velado. Você nunca vai dizer que não gosta da pessoa por ser negra. Vai sempre achar outro motivo. Incrível, pois muitos assumem não gostar de alguém por ser japonês. Por ser gay – atualmente, em menor intensidade. Mas quem não gosta de negro, bem, por ser negro, não tenta mudar seus conceitos. Talvez até por criação, nem sempre é maldade da pessoa, é algo intrínseco, de família, que ela não consegue mudar. Não sou politicamente correta, mas acredito que o dia que as pessoas pararem de serem vistas como cores ou opções sexuais, muita coisa mudará.
Fernanda consegue ter a postura do tal preconceito velado. Eliezer, que é o bobão da vez, conseguiu inclusive enxergar isso. E não foi uma de suas visões deturpadas de que ele é o príncipe do cavalo branco. Ontem, em conversa com a Claudia, conseguiu descrever direitinho o paradoxo de Fernanda: a menina loirinha e meiga que quer pagar de santa, mas de puritanismo é só a pose. Aos poucos o ar de pureza está caindo, e Fernanda está mostrando que pode, com louvor, roubar o papel de dissimulada que caiu tão bem em Lia. Como ignorar os comentários que fez sobre Uiliam? Não estou querendo rotular Fernanda como preconceituosa, mas como justificar que uma conversa na qual ela usa o argumento de que “Uiliam nem é tão negro assim” para poder criticá-lo não ganhe o peso que merece?
Em uma edição com valores invertidos e na eterna luta entre coloridos e dourados, parece que esqueceram dos tons negros.
Não, não acho que Uiliam tenha que ficar na casa por ser negro. Só acho que não podemos ignorar tal bandeira já que todo o tipo de preconceito já foi discutido. Contra gays, contra sarados, contra bombados, contra dourados. E contra os negros?
ps: independente do jogo, o assunto está sendo discutido aqui pela temática e não pelo jogador, ok? afinal, quem ô acha samambaia somos nós, e não os da casa, pois não assistem a edição. e eu sinceramente acho que ele já perdeu o papel de samambaia, dava pra se divertir um pouco mais com as falas sem sentido dele...
E para não perder o costume...

"Nós perseguimos a Lia". Porque sim, Zequinha!